© Luís Galrão/Tudo sobre Sintra
Comunicado da Quercus: "Hoje, dia 11 de Março, comemora-se o 20º aniversário da reclassificação da Área de Paisagem Protegida de Sintra-Cascais* em Parque Natural, e a Quercus faz uma retrospectiva do que de positivo e negativo foi feito e identifica as ameaças e as oportunidades.
Esta reclassificação de Área de Paisagem Protegida em Parque Natural de Sintra-Cascais (PNSC) veio aumentar o estatuto a uma área classificada localizada a oeste da Área Metropolitana de Lisboa, permitindo, na altura, dar mais um passo significativo para preservar um conjunto ímpar de valores naturais e evitar alguma da expansão urbanística nos anos 90. Destaca-se a presença de cerca de 900 espécies de flora autóctone e de vários endemismos lusitanos da flora, entre os quais se encontram o Cravo-romano e o Cravo-de-Sintra, e a totalidade da população mundial do Miosótis-das-praias.
A enriquecer o leque de flora do PNSC estão espécies ameaçadas como o Azevinho e espécies reliquiais da laurissilva, como o Samouco. No que respeita à fauna, salienta-se a presença de várias espécies ameaçadas, a Víbora-cornuda, a Águia-de-Bonelli, o Morcego-de-ferradura-mediterrânico, e de populações isoladas mas bem conservadas da boga-portuguesa.
É de registar a dinamização de acções de conservação dirigidas aos habitats costeiros e aos habitats ripícolas (conservação da Boga-portuguesa), por parte das autarquias locais e pelo ICNF, respectivamente. Nota máxima vai para os resultados obtidos com a aposta na preservação do património arquitetónico histórico-cultural e a valorização ambiental de áreas contíguas, por parte da Parques de Sintra - Monte da Lua. Recentemente, a inserção de grande parte da área do PNSC na Rede Natura 2000 veio reforçar a importância deste espaço natural protegido no contexto europeu.
Contudo, esta área protegida tem sido dominada pela infestação de espécies vegetais alóctones, como as acácias e o chorão, a qual constitui hoje uma das causas de perda de biodiversidade em Portugal. A Quercus vem assim exigir a criação de um programa de larga escala de controlo continuado de espécies vegetais exóticas invasoras, desenvolvido à escala nacional mas com forte repercussão local, com o objetivo de conter a proliferação destas espécies, reabilitar os habitats florestais autóctones e proteger activamente as espécies da flora e da fauna mais sensíveis. Impõe-se também uma maior fiscalização e vigilância sobre as práticas de turismo não licenciadas, pois a pressão turística desregrada pode contribuir de forma significativa para a destruição de habitats e da flora.
Pese embora já tenham passado 20 anos sobre a reclassificação da área protegida continuam a pairar as ameaças obstinadas de expansão urbanística, muitas vezes de génese ilegal, devido à construção de segunda habitação ou de empreendimentos turísticos, uma situação que deve ser objecto de atenção redobrada por parte das entidades competentes.
Sem embargo, a área protegida de Sintra-Cascais continua a apresentar enormes potencialidades em sectores como o turismo de natureza, a investigação científica e a pesca. Urge pois expandir a área protegida ao meio marinho, criando um Parque Marinho de Sintra-Cascais com diferentes zonamentos de protecção, para garantir a sustentabilidade da pesca nas áreas contíguas, recuperando técnicas artesanais de pesca e promovendo a pesca lúdica, incrementar actividades económicas ligadas ao turismo e ao lazer, como o mergulho, a observação de aves marinhas, percursos interpretativos, e desenvolver projectos de investigação para aumentar o conhecimento sobre património geológico e biológico marinhos.
Neste contexto, para avaliar a Área Protegida foi elaborado um quadro, que é colocado em baixo, com base numa análise que apresenta o diagnóstico (Forças e Fraquezas) e o prognóstico (Oportunidades e Ameaças).